Casa do Valle: Com a pandemia “trocámos a língua, mas não trocámos a linguagem”

JEL35 jan. fev. mar. 2022
A Casa do Valle é sinónimo de turismo de experiências, de natureza, de parceria local e sustentável. Foi nomeada para o Top 100 do Destinos mais Sustentáveis do Mundo e está classificada com “Chave Verde” desde 2017. Este Bed & Breakfast é gerido por Virpi Oliveira, uma finlandesa que se apaixonou por Sintra e pelo setor do Turismo.
Começo pela nomeação da Casa do Valle para o Top 100 Destinos Sustentáveis 2021, está feliz? Mais do que isso, estou orgulhosa. A candidatura foi apresentada pela Câmara Municipal de Sintra. Esta competição identifica boas práticas à escala mundial e ver a Casa do Valle, primeiro no top 100, agora já no top 6, deixa-me muitíssimo orgulhosa. Por agora a Casa do Valle está entre os 6 melhores destinos sustentáveis do mundo e pode, quem sabe, ficar em 1º lugar. Saberemos em março qual a classificação final, mas a projeção mundial já é determinante. Lembro que nesse top 6, metade são destinos em Portugal.
Para a Casa do Valle, o que significa esse reconhecimento? É uma certificação cruzada de todas as nossas práticas sustentáveis, não só as ambientais, como também as sociais, as empresariais e as económicas. A nossa ideia de sustentabilidade, passa, por exemplo, por trabalhar preferencialmente com empresas do concelho e por ter uma equipa de colaboradores polivalentes. Somos o alojamento mais antigo com a “Chave Verde” (GreenKey). Há alguma confusão entre os conceitos de sustentabilidade e de ecologia. É com alguma frequência que
se parte do princípio errado de que para se ser “eco” é necessário prescindir do conforto, quando, na realidade, não é só preciso reciclar, é absolutamente necessário produzir menos lixo para reciclar. Este caminho da sustentabilidade pode e deve ser percorrido sem abdicar do conforto dos clientes.
Vamos então ao começo de tudo, como é que surge a Casa do Valle? Casei com um Sintrense em 1988, adquirimos o terreno que em tempos foi uma vinha. Éramos ambos consultores
e trabalhávamos por toda a Europa, mas fixamo-nos em Sintra. No início, a intenção era ter alguns quartos para receber os amigos que nos visitavam, vindos de toda a Europa, mas um dia
percebemos que Sintra tinha poucas camas para receber turistas visitantes e fez-se luz….
Foi assim que começou…
Sim! Percebi nessa altura a paixão que tenho pelo setor; tem tudo a ver comigo. Sou formada em “Adult Education” e comunico com pessoas de todo o mundo. Sou apaixonada por “estudar os
estudos” e comecei a ler literatura sobre o setor. Percebi que a primeira coisa a fazer era contactar os agentes locais do Turismo, que na altura não existiam e por isso dirigi-me à Câmara Municipal de Sintra que se disponibilizou para me ajudar nos projetos que entretanto fui criando. É pela minha mão, em parceria com a autarquia, que nasce o projeto Sintra Inn e a marca ActiveSintra.
Quem são os vossos clientes? São adultos ativos, casais, pessoas individuais ou grupos. Acima dos 30 anos e até aos 70. Gente que gosta de caminhar, de retiros de yoga, de Natureza e
da outra Sintra que não seja só a dos castelos e dos palácios. Os nossos hóspedes são, maioritariamente estrangeiros do Norte da Europa (Escandinávia, Holanda, Inglaterra) e América de Norte (EUA e Canadá), mas temos muitas outras nacionalidades.
Há uma Casa do Valle pré e pós pandemia? O que houve foi uma reação rápida. Percebi que era muito importante as pessoas não se esquecerem de nós. 85% dos nossos clientes são estrangeiros e de repente os únicos que podiam vir eram portugueses. O que fiz foi intensificar os nossos canais de comunicação, fazendo uma mudança generalizada nas redes sociais, passando o português a figurar primeiro que o inglês: “trocámos a língua, mas não trocámos a linguagem”. Os nossos clientes gostam particularmente de caminhar na Natureza pelo que comecei a fazer lives com a minha cadela Pandora, explicando o percurso e criando interação.
Nunca deixou de estar em contacto com os seus clientes….
Nunca! Quem não sabe para onde vai é difícil lá chegar e quanto maior for a fidelidade aos valores da Casa do Valle, mais clientes fidelizo e mais atraio.
O que mudou na equipa Casa do Valle? Somos só mulheres e a maior parte de nós sabe fazer um bocadinho de tudo. Durante a pandemia, em layoff, numa altura em que ninguém estava a aceitar estágios curriculares, eu aceitei, através do IEFP e de duas faculdades. Aliás, hoje é o primeiro dia de contrato da Filipa, uma dessas estagiárias que ficou connosco. O que mais me atrai neste negócio é o facto de todos os meses fazermos coisas diferentes. Gosto do chamado micromanagement, de feiras e do desenvolvimento de novos produtos.
A Casa do Valle não é só um alojamento; por favor, queira continuar…
Fornecemos experiências particularmente ligadas à Natureza: caminhadas ao ar livre, por trilhos mapeados por nós; experiências gastronómicas ou culturais; atividades como o surf, o bodyboard, o parapente, a escalada e o bouldering na Serra de Sintra, etc. Atrevo-me a dizer que a Casa do Valle é o local perfeito para o descanso de quem quer conhecer e experimentar todas as potencialidades de Sintra. Sim, não é só alojamento, é também a resposta que Sintra precisa para afastar o turismo do núcleo histórico e da clássica visita aos monumentos mais importantes.
Projetos para o futuro….
Vamos lançar, finalmente, a nossa App Walk Sintra, já em fase de testes. Foi um trabalho exaustivo, todo feito pela equipa Casa do Valle, custeado 40% pelo projeto de internacionalização e o restante por mim. O Walk Sintra é um investimento de marketing para Sintra e para a Casa do Valle. Estou a frequentar um doutoramento online em Inovação e Criatividade de uma Universidade de Paris, estou a escrever um livro sobre Service Design e integro desde o início a Associação de Turismo de Sintra, agora na qualidade de tesoureira, e através desta instituição estou envolvida em muitos projetos que vão projetar a marca Sintra…
… A Virpi continuou a falar de projetos e da sua paixão pelo turismo de Sintra mas infelizmente o espaço é pouco. Esta associada da AESintra faz tanta coisa acontecer que me despedi dela com um “até breve”. Tenho a certeza de que nos voltaremos a encontrar.