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Viveiros Vitor Lourenço – “As plantas estão na moda”

Apesar dos “embaraços” causados pela pandemia a Viveiros Vitor Lourenço expandiu-se a Norte e a Sul. O confinamento dentro de casa revelou nas pessoas um novo interesse por plantas ornamentais e quem o diz é Vitor Lourenço, proprietário desta empresa sintrense que começou por vender vasos de barro no antigo mercado de Mem Martins.

Começo pela pergunta óbvia, onde foi o berço do negócio?
No mercado de Mem Martins, nos anos 80. O meu pai trabalhava numa olaria e nós vendíamos peças e vasos de barro e cerâmica. Com os vasos veio a terra, e com a terra as plantas que comprava num viveiro que existia no Banzão. Tinha 14 anos e depressa me tornei autossuficiente.

E do mercado de Mem Martins deu o salto para onde?
Aos 18/19 anos adquiri um armazém em Ouressa, altura que comecei a vender por grosso, para floristas e profissionais. O negócio cresceu muito, não havia tanta concorrência e eu tinha clientes de Lisboa até ao Algarve. Mais tarde comecei a vender no mercado municipal da Estefânia, em Sintra, e também no mercado do Cacém. Adquiri uma filial no Norte, perto da Exponor, e depois uma estufa em Vila do Conde, para fornecermos a zona Norte do país! Continuámos sempre a crescer! Depois veio o horto- Garden Center para venda também ao público na reta da Granja e como consequência adquirimos alguns terrenos na zona, para produção própria e nacional.

A Viveiros Vitor Lourenço (VVL) é uma empresa familiar?
Sim, a empresa sou eu, a minha esposa e a nossa excelente equipa que nos ajudou a chegar até aqui. Nunca tivemos sócios. A minha filha Marisa está a trabalhar connosco e é responsável por todo o processo de plantação e produção, que neste momento já é bastante tecnológico, semelhante ao que de melhor se faz na Holanda, onde ela fez o seu mestrado. A Marisa está a desenvolver mais um projeto de investigação com uma planta medicinal, com a universidade do Porto. Tenho um filho que está a estudar economia e mais dois sobrinhos que trabalham comigo.

Em poucas palavras qual é o core business da Viveiros Vitor Lourenço?
Inicialmente foi a comercialização de plantas ornamentais, mas dadas as necessidades do próprio mercado fomos seguindo a procura e expandimo-nos a outros segmentos; passando para a própria produção nacional, importação e exportação de plantas ornamentais, flores frescas e artificiais, artigos decorativos, acessórios para floristas, cerâmicas, terras e substratos, adubos e fertilizantes. Não temos intermediários, nem nas compras nem nas vendas, e para sermos mais competitivos criámos a nossa própria empresa de transportes; a Avitir- Soc. Transportes, que percorre toda a Europa.

Qual é o maior desafio do negócio?
O crescimento da produção de plantas ao ar livre, mas é muito difícil conseguir terrenos aqui em Sintra. No Porto, comecei com uma área total de 30 mil metros2 de produção (7 mil são cobertos – estufas). Há dois anos adquirimos novas instalações, nomeadamente na Maia, onde fiz um investimento muito avultado que me trouxe uma área de mais 45 mil metros2 de produção. Inaugurámos estas novas estufas e instalações no passado outubro. É mais fácil crescer no Norte, pois existe mais área disponível para estufas e agricultura. Aqui, na reta da Granja, temos entre 65 a 75 mil m2 de produção, mas precisava e ambicionava mais.

Chegado março de 2020, como é que a VVL começou a lidar com a pandemia?
A pandemia coincidiu com a primavera, o dia da mãe e a Páscoa, altura em que o volume de negócios costuma quadruplicar. Esta situação criou-nos um grande embaraço porque tínhamos muita produção de plantas que precisava de ser distribuída e deparamos com um país parado. Nós não fomos obrigados a fechar portas, e continuamos a tratar e a cuidar das nossas plantas. Nunca entrámos em Lay-Off. Trabalhamos com todas as cadeias de hipermercados mas só um desses grupos nos falhou….

Sintra conhece bem a Viveiros Vitor Lourenço?
Penso que Sintra não nos conhece totalmente, pois quem vê de fora não tem noção do que se passa nos “bastidores” e da mão-de-obra que é necessária para que as nossas plantas cheguem ao consumidor final sempre frescas e saudáveis! Somamos entre 75 a 80 trabalhadores, entre a Avitir e VVL, e somos líderes de mercado em Portugal na quantidade de plantas comercializadas. O maior produtor de lavandulas europeu está sediado em Portugal e somos nós que transportamos grande parte da sua produção para a Holanda, Alemanha, etc.

Ainda sobre os efeitos da pandemia no negócio, como é que se adaptaram?
Na primavera, e com a estufa repleta de plantas, tivemos que nos adaptar e criámos uma loja online que nos surpreendeu muito pela positiva, conseguimos fazer chegar as nossas plantas às casas dos portugueses que por estarem confinados em suas casas tiveram mais tempo para se dedicarem às plantas e aos seus jardins! Sentimos que levámos vida, natureza e alegria às suas casas. Fazemos entregas em qualquer parte do país, quaisquer que sejam as quantidades e temos parceiros localizados que nos apoiam nesta logística.

Foi difícil a adaptação ao digital?
Tenho os melhores colaboradores a trabalhar comigo, por isso não é difícil à VVL adaptar-se à nova demanda digital! Já temos um novo site e quero alargar as entregas a Espanha e às ilhas. As vendas online compensaram as quebras noutras áreas.

Empresarialmente falando, já chegou onde queria?
Sou muito ambicioso. Acho que devemos ter sempre novos objetivos. Nunca dou nada como garantido e mesmo sabendo que a VVL é uma empresa forte e autossustentável, sei que todos os dias devemos alargar os horizontes; é esta a mensagem que passo aos meus filhos

O que falta fazer?
Quero ampliar a produção própria e começar no mercado espanhol.

São dois sonhos?
Sim, pode chamar-lhe sonhos, porém não para já.

E quais serão as linhas futuras do negócio?
A projeção e manutenção de jardins são caminhos a considerar. É uma área muito interessante, na qual já temos quatro jardineiros a trabalhar e recrutamos recentemente uma arquiteta paisagística.

Por último, faltou aprofundarmos o gosto pelo ciclismo….
Sim, é uma paixão. Fui campeão nacional várias vezes, profissional durante 3 anos com 3 voltas a Portugal feitas. Dos 5 campeonatos ibéricos que participei ganhei 4 e em campeonatos mundiais já fiquei em 2º e 3º lugar; um dia vou conseguir ficar em 1º! Embora tenha pouco tempo, sinto que o treino e o ciclismo me aliviam o stress. Para a próxima época espero que a minha equipa Sintra Clube Ciclismo possa voltar às competições.

JEL31 novembro/dezembro 2020

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