Associados Especial edição

Ajudantes de Ação Direta, precisam-se!

JEL35 – novembro/dezembro 2021

A Casa de Repouso Quinta de Colares, associado da AESintra, é uma Estrutura Residencial para Pessoas Idosas (ERPI). Questionamos Helena Correia, Diretora Técnica, sobre a dificuldade em recrutar, e a resposta foi: “A categoria de Ajudante de Ação Direta é uma categoria profissional que apresenta uma rotação elevada. Com o aparecimento da pandemia, ao contrário do esperado, verificou-se uma manutenção dos postos de trabalho, provavelmente devido ao confinamento e à falta de oferta de emprego verificada nesta altura, nomeadamente no setor da restauração que, na freguesia de Colares, emprega bastantes pessoas. Quando o país iniciou a abertura verificaram-se as saídas para outros empregos (nomeadamente para a restauração) e também por baixas médicas e quando iniciámos o processo de recrutamento para substituição destas vagas notámos uma enorme dificuldade em recrutar. Recebemos poucos currículos, e as entrevistas que fizemos resultaram em nada porque as pessoas não queriam trabalhar nesta área, ou não estavam interessadas no trabalho por turnos rotativos ou por estarem em situação de desemprego com atribuição de subsídio e não quiseram “perder” esse “beneficio” em prol de uma profissão “difícil”.

Na opinião desta Diretora Técnica a pandemia colocou a descoberto as fragilidades do setor social e a dificuldade em contratar agravou-se, concorrendo para isso variadíssimas causas: os funcionários têm pouca formação na função; os salários são baixos; o trabalho é exigente quer a nível físico, quer a nível emocional; o trabalho por turnos rotativos; uma elevada incidência do sexo feminino nesta categoria profissional e, por último, a desvalorização da profissão. Muitas pessoas acham que trabalhar numa ERPI é o que há para fazer quando não encontram outro emprego.

Helena Correia considera ainda que “a pandemia agravou todo o processo de recrutamento dado que as Instituições de respostas sociais para Idosos (ERPI’s, Centros de Dia e SAD) foram bastante afetadas quer pelo aparecimento de casos COVID-19 nos seus residentes/utentes, quer pela constante exposição na comunicação social destas situações, dando uma visão de que os funcionários traziam o vírus para as Instituições, o que tornou ainda menos atrativa uma categoria profissional que já não era de fácil contratação.

Em média o tempo que demora a preencher uma vaga varia conforme a altura do ano. Os meses mais críticos são de maio a outubro, devido à
empregabilidade no setor da restauração e melhores salários nesta área, e o final de novembro e mês de dezembro, devido às festividades. Com
a pandemia verificou-se que a dificuldade não se prende tanto com estas questões sazonais, mas sim com questões mais estruturais inerentes ao desempenho e à visibilidade da profissão.

Por exemplo, este ano “demoramos quatro meses a preencher uma vaga, o que em tempos ‘normais’, demoraria, em média um mês”. Dado a situação geográfica, Helena Correia tenta recrutar pessoas que residam na freguesia de Colares, pois a rede de transportes públicos não tem horários compatíveis com quem trabalha por turnos, dificultando a contratação a quem resida fora da freguesia. O recrutamento para a Casa de Repouso Quinta de Colares é feito através de anúncio no site Net Empregos, ou pelas redes sociais. O anúncio de recrutamento é também colocado em alguns estabelecimentos comerciais da freguesia e são contactados os parceiros da Comissão Social de Freguesia através da Ação Social.

No último recrutamento Helena Correia também recorreu aos serviços da AESintra através da rede de empregabilidade. O IEFP também foi, em tempos, uma fonte de recrutamento, “porém os processos burocráticos inerentes aos programas disponíveis e o envio de candidatos que não se adequavam ao perfil pretendido tornavam o processo moroso, quando a contratação assume sempre um caráter urgente”.

Para Helena Correia é urgente a regulamentação e o reconhecimento da categoria profissional de Ajudante de Ação Direta de modo a conferir
formação e tornar a profissão mais atrativa. A profissionalização ajudaria na aplicação de salários mais justos. Para as empresas que utilizam
apoios à contratação, os processos de recrutamento deveriam ser simplificados.

Seria importante fazer-se um estudo sobre o perfil destes profissionais e seria importante levar à discussão pública a questão dos recursos humanos das instituições que prestam respostas sociais. É necessário que os cuidados sejam cada vez mais humanizados e direcionados e só se consegue isso mudando o perfil de quem está a cuidar, formando e informando com frequência e elevando os cuidados a uma esfera profissional, avaliando, planificando, e aplicando métodos e técnicas em prol do bem-estar da pessoa idosa.

Um dia também seremos idosos e basta colocar-nos a nós próprios a questão de como gostaríamos de ser cuidados caso necessitássemos de ir para uma Instituição, para percebermos que ainda temos um longo caminho a percorrer para a profissionalização e humanização destas respostas.”

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